quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O vulto

uma bicicleta velha levando um homem vivo e outro morto, adianta-se em frente ao carro que agora desliza em direção a encruzilhada. A oeste um vulto negro desce a estrada enlamaçada debaixo de uma sombrinha para proteger-se da chuva que molha a noite. Todas imagens chocando-se contra minha retina, entorpecendo de pavor os meus olhos. Dentro do carro quase parando, eu sacudo minha cabeça na tentativa de afastar as imagens que meus olhos recusam ver. São 11:53 da noite, e o relógio se apressa em contar as horas, ao passo que eu me atraso a cada minuto numa estranha vontade de chegar a lugar nenhum. As encruzilhadas sabem, muitas pessoas já gritaram os seus medos na décima segunda badalada. Nesse horário, eu também gritarei os meus.Aproxima-se o vulto com sua sombrinha, e eu desço do carro. Ando em direção ao vulto que vai definindo-se a cada passo, deixando de ser vulto para tornar-se em um rosto que até então eu só tinha visto no espelho. Seu olhar para dentro de mim cala meu grito e enterra-me no silêncio...

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