segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Gritos e silencios pós-modernos


Haverá um dia em que as portas não serão mais que ilusões de ótica e os nossos olhares verão apenas as lacunas das paredes que deixaram de existir. Pois que estas já desabaram em meio às ruínas de um tempo que já não há mais; e que se um dia houve, foi por um capricho de uma razão caquética e estagnada, que agora cansou de criar fantasmas e casas mal-assombradas.

Hoje meus olhos vêm umbrais em que os portões foram arrancados, com o resto de nossas ilusões, pelos braços fortes do devir. E também nossas utopias já não ocupam espaço nos saguões do tempo. Pois o nosso espaço e o nosso tempo sempre foram utopias ideologicamente construídas. E em verdade, os arautos do progresso e os apóstolos de uma nova fé que fingem ignorar, embora não admitam, sabem que já houve desmoronamento demais para continuarmos acreditando em castelos erigidos no ar...

Eles inutilmente tentam esconder esta última verdade, mas nossos ouvidos já a descobriram e o nosso espírito agora estranhamente sente-se nostálgico daquelas velhas ilusões.

Por isso, hoje acordei com um gosto de perda no lado esquerdo da língua e minha saliva ardia meus lábios... Ah! Quantos escarros foram precisos para que minha boca gritasse todas as minhas dores!! E quantas cusparadas eu dei diante do abismo e no teto do céu para aliviar o peso das minhas frustrações!!! Mas cuspir no chão não lava a imundície das ruas e cuspir para cima não atinge a face de Deus. Porque Deus não tem face, nem culpa para descontarmos as nossas mancadas, as nossas desditas;

-Mas quem as tem? - pergunta o meu desespero.

- Ninguém!!- responde a voz experiente da minha desilusão.

Nenhum comentário: