terça-feira, 11 de agosto de 2009

Canção desesperada de Thomas Heartworth depois da despedida de Susie Hellen

Tu, doce dama, que me abandonastes aqui sozinho no frio das montanhas
geladas,
Respirando o silêncio que deixaste,
Depois de ter-me fuzilado com mil palavras de fogo,

Queria eu que tu soubesses pela voz pesada que o vento leve leva soprando,
Queria eu insistentemente que tu soubesses
Que não restará nada do meu peito perfurado
Do meu coração estraçalhado,
Que já não pulsa, não pulsa....
Que já não reaje....
E que, enfim, já não é mais um coração.

Saibas tu que quando o vento soprar em teu ouvido
Já não haverá mais peito que respire ofegante
E já não haverá mais nada o que dizer....
E já não haverá mais o que sonhar....

E que agora mesmo nada já não há!
De mim nada mais resta...

Exceto uma poesia que paira solitária levada pelo vento sul
Sem uma gota de sangue dentro de si que venha tingí-la com o rubro torpor
dos loucos
Dos loucos que dormem tranqui-los
Nas ruas imundas sem nada saber de mim
Sem nada saber de ti.
Sem nada saber das nossas sabias, mas falsas palavras...
Sem nada, doce dama!!!!!!!!!!
Sem nada...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A toalha bordada

Ela gostou de mim, sem ao menos eu ter tido tempo de dizer por sobre que beleza o meu coração repousava até então. Era apressado os nossos desejos e rápida foi a paixão que nos envolve agora em uma bruma de saudade.
Meu quarto guarda em cada canto o cheiro de seu corpo, e minha memória a guarda por inteiro. Lembro-me da nossa noite de entrega. Ao terminar, sorrindo, ela enxugou seus cabelos com o lençou molhado de nosso suor. Eu, diligente e descuidado a um só tempo, ofereci-lhe para que enxugasse o cabelo uma toalha enxuta com o nome meu e da mulher que havia me presenteado o tecido piegas.
Como foi para mim doloroso vê-la espantada e chorosa a olhar fixamente aquele pedaço de tecido bordado, e aos soluços baixar a cabeça e enchugar não os cabelos revoltos, mas as lágrimas que lhe desciam dos olhos doloridos. Foi denunciado, assim, o inicio do fim daquela rápida paixão, que hoje se demora em nostálgicas lembranças.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

cigarros e silêncio



Há quem, com a boca cheia de palavras, não consiga dizer nada ao querer falar tudo. As ruas e praças estão cheias de bocas, e já não há mais ouvidos para tantas vozes. Embora ninguém mais ouça, todos querem dizer alguma coisa.

Eu não digo mais nada. Segurando um cigarro barato com minha mão trêmula, desesperado e apático a um só tempo, assisto a fumaça preencher o vazio do meu quarto, misturando-se à voz roufenha de Bob Dylan que grita as suas dores sem saber das minhas.

Tanto melhor que não saiba mesmo, pois assim haverá uma pessoa a menos para não ter que lembrar de tudo quanto engoli calado, sem ao menos dizer “Foda-se!”...

E calado, acendo outro cigarro e espero a minha memória esquecer-se de mim.

Os quebrados versos do entojo

De tudo em tu não queria eu nada,
A não ser afastar-me de ti.
Pois se tu soubesses, Ó princesa desencantada,
O quanto de mim em ti eu perdi;
Estarias tu de mim já separada.

Não buscarias tu remotas lembranças
Nem promessas vãs de mim cobrarias
Pois à medida que o tempo avança
Tua presença cada vez mais me angustia.

Vai-te embora, portanto
Com teu corpo,
tua alma e teus cantos
Em meu ouvido
outras musas falam novas poesias
E meus pés já com elas
Dançam eróticas melodias.

Espere!
Mas não te molhes tanto,
Em teus próprio pranto,
Apenas esqueça que já estivemos juntos um dia!

Garrafas quebradas

As quantas anda as cachaças e as garrafas vazias?
As nossas festas se sustentam sobre os frágeis vidros das garrafas de vinho e de cerveja barata.
Quantas pessoas têm se cortado depois de terem festejado?
O alcool deixou-me com o raciocínio por demais atrapalhado para poder contar, ou será a multidão dos embriagados feridos que está para além de qualquer calculo?
Aqui tenho bebido pouco, porém enbebedado demais, por falta de cachaça e por excesso do tédio que entorpece.
Em um amanhã qualquer eu acordarei sóbrio, e direi que beber a largos tragos a escuridão da noite, deixa-nos sombrio e inclusive mergulha-nos em uma ressaca dos diabos no dia seguinte...
Mas em meio ao vômito de um bêbado desesperançado o amanhã nunca vem.

A prostituta e o delegado

- Era um sujeito de baixa estatura e de aspecto nauseante.É só disso que eu me lembro senhor delegado - disse a "dama" depois de ter cruzado as pernas num movimento languido e despreocupado.

O delegado observava atento não tanto às palavras que eram proferidas por aquela boca queimada de cigarros, mas àquelas pernas que se erguiam ora uma ora outra para se cruzarem sob o peso de uma bolsa rosada que repousava sobre o colo da queixosa.

- Sim, e o que ele lhe fez precisamente, doce dama?- perguntou o delegado pacientemente.

- Primeiro ele fez o que queria fazer, e depois deixou de fazer o que deveria ter sido feito.

- Por favor, seja mais precisa, senhorita, só é póssível a justiça ser justa se podermos precisar os fatos que temos de julgar.
- Meu Deus, será preciso eu dizer de forma mais explicita? Ok, ele trepou e não pagou, foi isso.

- Pois bem, para efetuar a justiça vc trepa comigo e eu pago por mim e pelo sujeito - propôs o bondoso delegado, segurando no braço da dama e conduzindo-a para uma sela vazia e higienizada.